05 ago Produção de chocolate é caminho para alavancar economia no sul da Bahia
Passada a fase de crise na lavoura cacaueira do sul da Bahia, agricultores, gestores públicos e empresários apostam na produção do chocolate para alavancar a economia da região. A opção foi destacada na noite desta quarta-feira, 3, na abertura do V Festival do Chocolate e Cacau que ocorre, em Ilhéus, no Centro de Convenções até o próximo domingo, dia 7. A solenidade contou com a presença do governador do Estado Jaques Wagner, do prefeito ilheense Jabes Ribeiro, dos secretários estaduais de Turismo, Domingos Leonelli, e de Agricultura, Eduardo Sales, além de deputados, secretários municipais, vereadores e prefeitos da região.
Para Jabes Ribeiro, a retomada da cacauicultura e o fortalecimento da produção do chocolate são fatores que cooperam com o momento atual de reconstrução de Ilhéus. “Estamos somando todos os esforços, buscando todas as parecerias para recolocarmos Ilhéus no lugar de destaque no cenário nacional, de onde o município nunca deveria ter saído”, destacou o prefeito.
Jaques Wagner lembrou que a Bahia voltou a ser o maior produtor nacional de cacau e destacou fatores importantes para essa retomada, como a renegociação das dívidas dos agricultores. O governador ressaltou a luta pelo estabelecimento do preço mínimo da arroba do cacau e anunciou que o governo está estruturando decreto para o manejo de árvores exóticas, com o objetivo de aumentar a produtividade da região.
Wagner, que esteve na semana passada em Ilhéus, assinando a ordem de serviço para a construção da segunda ponte que fará a ligação entre o centro da cidade e a região sul do município (a primeira ponte estaiada da Bahia), considerou que produção do chocolate é mais uma forma de alavancar a economia da região, agregando valores culturais e ambientais. Segundo o governador, a região sul baiana pode concorrer com grandes praças, tornando-se um dos maiores produtores de chocolate do mundo. “Entre todos os investimentos que estamos trazendo para Ilhéus e região, sem dúvida a recuperação da lavoura cacaueira é o mais importante”, comentou fazendo um comparativo. “Vivemos enaltecendo os chocolates suíços e alemães e eles não plantam um pé de cacau, temos tudo para superá-los: produção, história e cultura”, frisou o governador.
O presidente da Associação de Turismo de Ilhéus (Atil), instituição organizadora do evento, Marco Lessa, apresentou dados que ratificam a importância do produção do chocolate para alavancar a economia local e como fortalecimento da cacauicultura. “Na primeira edição do Festival de Chocolate, tivemos apenas 13 stands e uma marca; hoje, cinco anos depois, estamos com 15 marcas e mais de 60 stands”, demonstrou Lessa.
Para a empresária Marli Brito, o festival representa uma oportunidade de apresentação da marca, geração de negócios e consolidação de Ilhéus e da Costa do Cacau como importantes polos produtores de chocolate. “Esse evento é uma esperança para um futuro melhor com o cacau, nos dá mais segurança para investir no produto e nos estabelece como referência na produção do chocolate”, destacou a expositora.
Estrada do Chocolate – A lavoura do cacau está se erguendo em Ilhéus, com força total. Além das lutas pelo estabelecimento do preço mínimo e intensificação da produção do chocolate, a região sul baiana ganhará brevemente mais fator de geração de emprego e renda. Por meio de uma parceria entre a Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur) e as prefeituras de Ilhéus e de Uruçuca está sendo elaborado um produto turístico denominado Estrada do Chocolate, proposta do presidente da Atil, Marco Lessa.
O itinerário será instalado na rodovia BA-262, que liga os municípios de Ilhéus e Uruçuca, com o intuito de transformar o patrimônio herdado da lavoura cacaueira em mais um atrativo para os milhares de visitantes que chegam a Ilhéus e outras cidades da região durante todo o ano. As roças de cacau cabruca, “sistema ecológico de cultivo agroflorestal”, conforme definição do engenheiro agrônomo da Ceplac, Dan Érico Lobão, e fragmentos de Mata Atlântica farão parte do roteiro.
O potencial turístico preservado no entorno da “Estrada do Chocolate” ganhou holofotes graças à diversificação experimentada nos últimos anos pelos cacauicultores da região, que apostam na fabricação de chocolate fino – ou gourmet como definem alguns – para contornar as dificuldades que atingem a produção e comercialização de amêndoas de cacau. Incipiente, mas promissora, a nova atividade é fruto da busca de alternativas dos produtores para a crise que compromete o cultivo de cacau na região desde a chegada da vassoura-de-bruxa, no final da década de 1980.
Informação e capacitação – O secretário de Turismo de Ilhéus, Alcides Kruschewsky, ressalta que a iniciativa da criação da “Estrada do Chocolate” é capitaneada pela Setur, que planeja investir em dois portais de informações turísticas na rodovia Ilhéus-Uruçuca e já contratou uma empresa para instalar a sinalização em todo o percurso. “A empresa é a TTC Soluções em Mobilidade, que concluiu a etapa de vistoria e agora coleta dados para completar o trabalho”. Também ficará a cargo da Setur a capacitação empresarial dos produtores de cacau envolvidos no projeto.
Kruschewsky adianta que ainda neste mês de julho será realizado um encontro entre o prefeito de Ilhéus, Jabes Ribeiro, a prefeita de Uruçuca, Fernanda Silva, e representantes do governo do Estado para apresentação do roteiro Estrada do Chocolate. Em seguida, serão reunidos os empresários que participarão do projeto para a definição de uma agenda comum de trabalho.
Acervos natural e histórico – Com 42 quilômetros de extensão, a rodovia Ilhéus-Uruçuca é cercada por antigas fazendas de cacau, entre elas a Renascer, Provisão e Riachuelo, e sítios históricos como o Rio do Braço e as ruínas da estrada de ferro que impulsionou a região no auge da produção cacaueira. O novo roteiro turístico integrará também as fábricas de processamento de amêndoas de cacau instaladas no Distrito Industrial de Ilhéus, a unidade de produção de mudas do Instituto Biofábrica de Cacau, o campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFBA) de Uruçuca, além de outros valiosos patrimônios históricos e culturais resguardados na sua extensão.
Para quem desejar conhecer as fazendas da região antes mesmo da criação da “Estrada do Chocolate”, a Fazenda Provisão, localizada à margem da BA-262, oferece ao visitante um lindo cenário, com barcaças de secagem do cacau, capela e o Rio Almada, que passa em toda a extensão da propriedade. A casa, em estilo colonial, abriga um museu com objetos que pertenceram ao primeiro intendente de Ilhéus, coronel Domingos Adami. Na Fazenda Riachuelo, que fica a 20 quilômetros do centro de Ilhéus, o turista conhece tudo sobre cacau, desde a produção, pesquisa até a fabricação de chocolate. Segundo Alcides Kruschewsky, a antiga Fazenda Mucambo será transformada em hotel, para fomentar o fluxo de visitantes no novo roteiro da estrada Ilhéus-Uruçuca.